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20/04/2022 - 07:23

Dia do Indígena: Artista plástica e embaixadora dos indígenas transmite em obras sua imersão cultural

Deuseni Félix, ao ajudar os filhos a pesquisarem sobre indígenas, percebeu que as informações em livros eram antigas, e mesmo em uma cadeira de rodas resolveu pesquisar e vivenciar esse mundo

Giro Conti

Dia do Indígena: Artista plástica e embaixadora dos indígenas transmite em obras sua imersão cultural

Foto: Reprodução

Por ​Fernanda Renatè
 
No dia 19 de abril é comemorado o “Dia do Índio”, no entanto, como ressaltou a artista plástica e embaixadora dos índios Deuseni Felix, todo dia é dia do índio e esse povo merece respeito e admiração todos os dias do ano.

Essa mulher de nome forte, carrega dentro de si sentimentos, conhecimentos e uma imersão cultural que jamais poderão ser tiradas da sua alma.

São as memórias afetivas, que acontecem quando seus sentidos entram em contato com algum elemento que desencadeia uma lembrança. Tocar ou ver algum objeto, ouvir uma música ou um som específico, sentir um cheiro, ver uma fotografia, tudo isso te leva a sua memória afetiva que está guardada a sete chaves.

Uma vivência e experiência de “milhões”, como diriam os jovens nas redes sociais de hoje em dia.

Mas já que é para falar de gerações, histórias e culturas, porque não trazer o antigo para perto do novo, o difícil para perto do fácil e o desconhecido para perto da descoberta?

Essa mulher de nome forte, e que volto a repetir, Deuseni Félix, encontrou na cultura indígena uma forma de reconhecimento internacional através das suas obras plásticas, a qual se entregou após sofrer um acidente automobilístico, o qual a deixou paraplégica.

Limitações físicas, ser mulher, ser branca? Negativo, nada disso impediu a artista plástica de visitar as mais distantes tribos indígenas de Mato Grosso e do mundo, e transferir em suas obras um pouco da sua imersão cultural vivida entre os povos indígenas.

Em entrevista exclusiva ao Agromais Notícias, ela contou como começou sua admiração pelos povos indígenas.

“Nos anos de 1996 eu estava indo buscar uma pessoa na rodoviária. Quando cheguei no terminal encontrei uma índia sentada no chão, uma índia xavante, com uma criança no colo. Eu obviamente não sabia falar a língua dela, mas notei que a criança estava com uma aparência muito ruim, com o nariz escorrendo e por gestos nós nos entendemos e eu a trouxe para minha casa. Trouxe para dentro da minha casa essa criança e essa mãe, sem saber nada delas. Bem nesta época, estava próximo da semana do índio e meus filhos me pediram ajuda para pesquisar sobre o assunto, e foi através dos livros eu percebi que tudo que tínhamos de acesso a informações era sobre a história do índio do passado, que estava escrito nos livros de histórias. Aí que eu comecei a pesquisar e comecei a pintar para levar o índio de hoje para expor para o mundo”, revelou.

A artista plástica ainda destacou que transmitir a cultura indígena em obras plásticas resultou em um ‘boom’ na sua carreira.

“Eu não era artista, eu estava tentando ser artista, no entanto, quando eu surgi com essa ideia de estudar sobre os índios meu nome ‘Deuseni Félix’ foi lá em cima. Da artista do anonimato eu consegui me destacar, um dos motivos também foi pela aceitação da mídia. Nós artistas não andamos sozinhos, se a mídia não nos aceitam, ninguém te conhece, e eu tive sorte da mídia me aceitar por esse trabalho que eu considero magnífico que eu faço por eles”, contou.

A artista relembrou a venda de uma obra que marcou sua carreira afastando de vez o mito de que “índio traz azar”.

“Na minha primeira exposição numa coletiva que eu realizei na galeria Centro América, a atriz, Elizabeth Savalla
veio se apresentar e comprou uma obra minha que era um índio. Eu fiquei muito feliz e me senti muito importante ‘poxa vida era uma atriz global comprando uma obra minha’. Desde então não parei mais”, contou.

Deuseni também falou sobre o reconhecimento internacional que tem pelo mundo a fora.

“Eu realizo exposições pelo mundo, dou palestras, tudo falando sobre a cultura indígena. Hoje sou mais conhecida lá fora do que aqui no Brasil”, afirmou.

A artista comentou a alegria e a responsabilidade de ser reconhecida com dois títulos internacionais e um nacional, como embaixadora dos índios.

“Fico feliz pelo reconhecimento e também assumo que a minha responsabilidade sobre eles aumentou muito. Porque se antes eu tinha um respeito, uma admiração e um carinho por eles, é tudo em cima daquilo que eu acredito, de como eles são, de como eles vivem. Por isso que eu sou apaixonada por eles e pela pessoa que eles são. A minha casa é considerado um albergue indígena. Eu, por exemplo, morava em uma casa que vinha mais de trinta índios na minha casa. Aí fui para um apartamento, e a maioria não sobe de elevador e existe muito aquela história com gente que diz que “índio traz azar”, aí eu tive que comprar uma chácara a beira do rio Cuiabá para poder recebê-los”, revelou.

A artista plástica não se priva de viver momentos “in loco” com os indíos, ou seja, Deuseni vive o dia-a-dia de tribos para intensificar suas pesquisas.

“Eu vou pro Xingú, eu vou para Juína, eu quero viver a história do índio para desenvolver minhas obras. Por exemplo, quando eu vou para o Xingú eu durmo em “jirau” – espécies de camas produzidas artesanalmente com tábuas de madeira – durmo nas ocas. Geralmente eu fico nas melhores ocas, na casa dos líderes, eu como macaco, eu como peixe, tudo que eles comem, eu como, lá sou uma índia branca. Eu nunca levei para uma aldeia uma tinta, porque eu não quero chegar lá e falar ‘eu sou Deuseni pintora’, eu não sou pintora, eu vim aqui para conhecer vocês. Da mesma forma quando trago um índio do Xingú para dentro da minha casa, é um respeito mútuo, tanto de mim para eles, como deles para mim”, contou.

Sobre suas aventuras entre as diversas culturas e tribos indígenas mais distantes e intocadas já visitadas, a artista plástica destacou como de grande importância o apoio que recebeu da família, mesmo que isso “parecesse loucura”.

“Minha família me deu total apoio, no entanto, eu fui criticada por outras pessoas. Muitos amigos perguntavam como que uma mulher, cadeirante, iria visitar essas aldeias. Eles ainda afirmavam que os índios iam me matar, me afogar. Eu tive a torcida contra, mas a minha família graças a Deus também ficaram apaixonados pelos índios, poxa vida, meus filhos cresceram entre os índios, então não tinha como eles ficarem contra. Todos que estavam ao meu redor, minha família me apoiou e principalmente respeitou o amor que eu tenho por eles”, revelou.

O Agromais Noticias ficou curioso em saber qual dos povos indígenas a nossa entrevistada mais aprecia e ela não hesitou em afirmar “os Xingús”!

“Eu gosto mais do Xingús porque eles ainda são 80% índios. Como eles vivem mais afastados das cidades, as culturas, as lendas, os rituais, a língua ainda prevalecem. Já esses índios que estão mais próximos da cidade são muito ‘índio-branco’. Lá tem Celular, tem arroz, tem feijão, tem a carne; não tem a pesca, não tem o macaco para comer, então, o Xingú ainda prevalece a cultura deles de ser índios”, afirmou veementemente.

Para finalizar, a artista plástica resumiu um pouco da sua história, resumindo com suas próprias palavras toda a sua trajetória.

Eu sou cadeirante há 37 anos. Sofri um acidente de carro e fiquei paraplégica. Toda vida eu gostei de arte, mas eu achava que a arte era para rico, que a arte era pra quem tinha dom. Depois que eu saí do hospital, praticamente uns 10 anos depois, eu morava ao lado de uma escola de arte e todo dia uma amiga minha passava e falava vamos participar dessa escola aqui, e eu sempre dizia não, até que um dia que ela fez minha matrícula e eu fui. Eu comecei com desenho, pintando natureza, pantanal, aprendi todas as técnicas, aí por último eu comecei a pintar a figura indígena. Aí eu descobri que realmente não era um dom, você não precisa ter dom, você precisava ter coragem de fazer aquilo, acreditar naquilo, e principalmente amar aquilo que você estava fazendo ou o que você ia fazer. E é assim que vivo hoje”, finalizou a Comendadora com dois títulos internacionais, e um nacional de embaixadora dos índios, campeão nacional de arco e flecha, e a Imortal Intercontinental de Artes Plásticas e Poesia, Deuseni Félix.

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